Hoje é 7 de julho de 2024 09:35
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Secretário de Saúde de Goiânia admite ‘caos’ por conta do avanço da dengue

Ao prestar contas da gestão na Câmara Municipal, Wilson Pollara detalhou aplicação de recursos da pasta e ouviu questionamentos sobre problemas em unidades de saúde
Wilson Pollara, secretário de Saúde de Goiânia: “Tivemos em Goiânia 50% de aumento na demanda nos três primeiros meses do ano por causa da dengue – são 100 mil consultas a mais” // Fotos: Gustavo Mendes

O secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, informou nesta terça-feira que a prefeitura utilizou, no ano passado, 21,40% de recursos próprios em saúde – índice acima dos 15% exigidos pela Constituição Federal como o mínimo a ser aplicado na área. A informação foi dada durante audiência pública para prestação de contas da secretaria relativas ao terceiro quadrimestre de 2023, na Comissão de Saúde da Câmara Municipal.

Segundo o balanço apresentado, as despesas com saúde totalizaram R$ 1,954 bilhão, sendo 55,6% provenientes do tesouro municipal. Já os outros 44,4% – correspondentes a R$ 828,495 milhões – foram repassados pela União e pelo Estado para o financiamento da área da saúde em Goiânia.

“Na rede de atenção primária foram efetuados 8.120.228 atendimentos, entre procedimentos clínicos, cirúrgicos, prevenção e diagnósticos. Na rede de atenção de urgências, foram feitos 254.012 procedimentos, que obtiveram cerca de R$ 144 milhões. Na Atenção à Média e Alta Complexidade, entre internações, cirurgias, implantes de órgãos e diagnósticos, foram realizados 91.618 atendimentos, num custo de R$ 436,3 milhões”, detalhou o secretário.

Sobre a situação financeira dos prestadores do Sistema Único de Saúde (SUS), Pollara afirmou que havia dívida de R$ 48,6 milhões no início de sua gestão, em setembro de 2023, e que pagou R$ 283 milhões, reduzindo o valor do débito para R$ 19,7 milhões.

Como outras ações executadas pela pasta no período, o secretário citou ações de zoonoses, mutirões de limpeza contra o mosquito transmissor da dengue, mutirões de saúde em bairros e carreta com realização gratuita de exames diagnósticos.

Pollara apresentou aos vereadores um total de 34 obras realizadas pela pasta: 17 revitalizações completas; seis revitalizações em andamento; três grandes reformas (CEM Pedro Ludovico, UPA Guanabara e Centro de Zoonoses); além de 11 obras em fase de licitação ou de construção – USF Jardim das Esmeraldas, USF Jardim Curitiba, USF Santo Hilário, USF Brisas da Mata, USF Aroeiras, USF Eldorado Oeste, USF Mirabel/Nunes Morais, USF Grajaú/ Caravelas/Andreia Cristina, USF Santa Fé, USF Vale dos Sonhos e USF Luana Park.

Ao falar com o PORTAL NG, Pollara disse que a saúde está sobrecarregada atualmente devido ao grande aumento de casos de dengue. Ele disse que acabou de chegar de São Paulo, onde esteve no fim de semana, “e lá está o caos também”.

“Tivemos em Goiânia 50% de aumento na demanda nos três primeiros meses do ano por causa da dengue. São 100 mil consultas a mais”, disse.

Ainda mencionando o outro estado, ele disse que “como em São Paulo, em Goiânia serão montadas tendas nas frentes das unidades de emergência para atender pacientes com dengue. Apesar de não poder garantir quando começam os atendimentos nessas tendas, por causa da burocracia da licitação, ele acredita que em uma semana talvez já esteja tudo pronto.

Segundo ele, nessas tendas os profissionais de saúde vão verificar os sintomas da dengue e faz dois exames, o que confirma o diagnóstico de doença e o exame de plaqueta, além de hidratar o paciente.

Para presidente da Comissão de Saúde, conta ‘não fecha’

A presidente da Comissão de Saúde, Kátia Maria (PT), questionou o secretário sobre o não cumprimento das 128 ações planejadas no Programa Anual de Saúde (PAS). Para ela, a situação é grave e a saúde de Goiânia “está na UTI”.

“Só foram alcançadas 42 metas, ou seja, 33% do planejado, sendo 77 metas não atingidas, além de nove que consideramos que precisam ser revisadas porque não tiveram a eficácia planejada”, afirmou a vereadora.

Ao solicitar à Secretaria de Saúde revisão sobre o cumprimento de metas, Kátia pontuou questões como déficit de servidores em unidades; falta de prontuário eletrônico em consultórios de rua; infiltrações em unidades de saúde; ineficiência do Plano de Contingenciamento da Dengue. A parlamentar requereu ainda maior atenção da SMS em relação a exames preventivos para mulheres; aferição dos casos de violência sexual; déficit de profissionais na pediatria; demora no atendimento; superlotação das unidades; e falta de insumos.

“Apesar de ter aumentado o percentual de aplicação de recursos na saúde, na prática, a gente não sente que esse dinheiro chegou”, disse Kátia Maria.

Sobre o relatório apresentado por Pollara, Kátia Maria reclamou de falta de transparência. Para ela, a conta “não fecha”, já que, ela disse, com R$ 1,9 bilhão de investimento, teria de ter um atendimento melhor para a população na ponta.

“Infelizmente o relatório, mesmo com ampliação de aplicação de recursos, você não sente isso na ponta e nem vem detalhado no relatório, queremos saber como foram gastos esses quase R$ 2 bilhões, já que faltam materiais e insumos nas unidades, prédios com tetos desabando”, falou.

Ao PORTAL NG, Pollara disse que o não cumprimento de metas mencionado pela vereadora está relacionado a licitações e construções, “que serão cumpridos ainda”. Segundo disse, o problema da falta de insumos já foi resolvido e a pasta contratou mais 700 médicos para destravar atendimentos.

Vereadores apontam problemas

Durante a prestação de contas, o vereador Fabrício Rosa (PT) mostrou imagens do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Esperança, com mato alto, água parada e teto mofado.

“Essas imagens são do Caps Esperança, mas os problemas se repetem em outras unidades”, afirmou.

Já Bill Guerra (MDB) comentou que, ao percorrer unidades de saúde, não observa melhorias. Segundo ele, o secretário, oriundo do estado de São Paulo, “precisa visitar as unidades, já que não parece conhecer a realidade goianiense”.

Em resposta, Pollara declarou que “é indelicado falar que um goiano faria melhor, pois a questão da saúde é difícil em qualquer lugar” e que está “totalmente dedicado à gestão da pasta”.

Aava Santiago (PSDB) mostrou que a SMS gastou R$ 12 milhões em armadilhas e inseticidas contra o mosquito transmissor da dengue e suas larvas. De acordo com a vereadora, a compra foi feita de empresa já acusada de superfaturamento em licitações em outros municípios.

Em resposta, Wilson Pollara afirmou que as armadilhas compradas pela Prefeitura de Goiânia não são as mesmas da reportagem exibida pela vereadora.

Um dos poucos a defender a gestão da saúde, Pedro Azulão Jr. (PSB), disse que tem “notado melhorias na prestação do serviço” em algumas unidades da prefeitura.

“Estou acompanhando reformas, principalmente da região Noroeste, e todas estão melhorando. Mas claro que a demanda é muito grande”, disse o vereador ao PORTAL NG, ao pedir que população colabore no combate ao mosquito transmissor da dengue.

Servidores e entidades médicas também reclamam

A audiência pública também contou com participação de representantes dos servidores da saúde e de órgãos municipais ligados à área. A presidente do SindSaúde, Neia Vieira, criticou o Programa “Saúde Mais Perto de Você” – em que uma carreta itinerante oferece serviços de saúde. Para a representante do sindicato, o mais importante seria o fortalecimento das unidades básicas nos bairros.

“Foram mostradas aqui 669 ações de promoções de saúde, mas temos mais de um milhão de habitantes na cidade que não estão sendo alcançados por prevenções”, disse.

Já a vice-presidente da Associação dos Usuários de Serviço Mental do Estado de Goiás, Vanete Rezende, manifestou descontentamento com a presença de organizações sociais dentro dos Caps, pois, segundo ela, “estão trazendo prejuízos”.

O diretor do Sindicato dos Médicos, Bruno Valente, considera que a gestão da saúde não está em boas condições. De acordo com ele, há greve por falta de pagamento e falta de insumos nas unidades – inclusive materiais utilizados no tratamento da dengue.

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